segunda-feira, 10 de setembro de 2012

GRAFISMO INFANTIL


Grafismo Infantil

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ara Vygotsky, o brincar e o desenhar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento de linguagem escrita.
Será que damos a devida atenção a tais atividades?
O desenho parece surgir de forma espontânea e evoluir junto ao processo de desenvolvimento global da criança. Também é uma tentativa de comunicação formal e um meio de representação e simbolização. A criança expressa em seu grafismo aquilo que ainda não consegue com outras linguagens, por exemplo, a fala ou a escrita.
Lais Pereira, em seu texto “O Desenho Infantil e a Construção da Significação”, traz considerações de Piaget e de Vygotsky sobre o grafismo infantil. E também um estudo de caso de uma criança de 4 anos com uma discussão interessante fundamentada na literatura, em que podemos visualizar os aspectos do desenho discutidos pelos autores.
PIAGET
Para Piaget a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe. Ao desenhar ela elabora conceitualmente objetos e eventos. Daí a importância de se estudar o processo de construção do desenho junto ao enunciado verbal que nos é dado pelo indivíduo. 
“O desenho é precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo. Semelhantemente ao brincar, se caracteriza inicialmente pelo exercício da ação. O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial, predomina no desenho a assimilação, isto é, o objeto é modificado em função da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico.”
Fases do desenho segundo Piaget:
Fonte: Descoberta de um universo: a evolução do desenho infantil, de Thereza Bordoni
Garatuja: na fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer e a figura humana é inexistente. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste. Pode ser dividida em:
Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Ainda é um exercício. Não há preocupação com a preservação dos traços, sendo cobertos com novos rabiscos várias vezes.
Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. Figura humana de forma imaginária, exploração do traçado; interesse pelas formas.
Nessa fase a criança diz o que vai desenhar, mas não existe relação fixa entre o objeto e sua representação. Por isso ela pode dizer que uma linha é uma árvore, e antes de terminar o desenho, dizer que é um cachorro correndo.
Pré- Esquematismo: fase pré-operatória, descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Os elementos são dispersos e não relacionados entre si. O uso das cores não tem relação com a realidade, depende do interesse emocional.
Esquematismo: fase das operações concretas (7 a 10 anos).Esquemas representativos, começa a construir formas diferenciadas para cada categoria de objeto, por exemplo descobre que pode fazer um pássaro com a leta "V". Uso da linha de base e descoberta da relação cor objeto. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aparecem fenômenos como a transparência e o rebatimento.
Realismo: final das operações concretas . Consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos.
Pseudo Naturalismo: fase das operações abstratas (10 anos em diante).É o fim da arte como atividade expontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. 
Características: realismo, objetividade, profundidade,espaço subjetivo, uso consciente da cor. 
Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções.
VYGOTSKYDuas condições são investigados pelo autor:
Domínio do ato motor - inicialmente, o desenho é o registro do gesto e logo passa a ser o da imagem. Assim a criança percebe que pode representar graficamente um objeto. Indício de que o desenho é precursor da escrita.
Relação com a fala - primeiro o objeto representado só é reconhecido após a ação gráfica quando a criança fala o que desenhou. Depois ela passa a antecipar o ato gráfico, verbalizando o que vai fazer. Vygotsky afirma que a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica.
Outros autores que tratam da temática Desenho Infantil:
Edith Derdyk, 1989
Sueli Ferreira, 2001
Viktor Lowenfeld, 1977
Ana Angélica Albano Moreira, 1984
Analice Dutra Pilar, 1996
Herbert Read,1977
"Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças"Picasso

Interações entre Desenho e Escrita
"O desenho começa como uma escrita, e a escrita como um desenho, depois a criança cria formas de diferenciação e de coordenação entre elas..."
Em uma matéria publicada na Revista Viver Mente e Cérebro - Especial Emília Ferreiro, a autora Analice Pilar mostra o resultado de uma pesquisa sobre o desenho e sua relação com a escrita, além de descrever e discutir as fases do desenho segunto Luquet.
Conceito de erro no desenho para a criança:"...o erro dizia respeito a um imprevisto no plano do desenho que estava relacionado às deformações, aos borrões ou ao uso inadequado da cor..."
"O erro apareceu, aqui, como um imprevisto no planejamento gráfico ocasionado, segundo as crianças, pela falta de habilidade para criar o desenho..." 
p.34
A pesquisa:Objetivo - analisar as possíveis interações entre os processos de desenho e de escrita, tendo por foco as estratégias de representação constuídas pelas crianças.
Amostra  - 97 crianças de 6 a 8 anos, da primeira série de escolas públicas de Porto Alegre. 
Metodologia - 
1 - divisão da amostra em dois grupos: Grupo A, com 57 crianças, com trabalho de desenho e escrita nas aulas. Grupo B, com 40 crianças, com trabalho de escrita.
2 - aplicação de 3 situações de desenho e escrita ao longo do ano.
Resultados e Conclusão - 
1 - após se diferenciarem, há uma estreita relação entre os processos de desenho e escrita, com interações entre as construções dos sistemas.
2 - pode haver uma correlação entre desenho e escrita ou uma precedência do desenho sobre a escrita.
3 - há uma linha de evolução comum ao desenho e à escrita.
Sugestão da autora - "Enfim, é importante o professor de artes visuais, de educação infantil e das séries iniciais compreender os sistemas de desenho e de escrita em seus níveis de construção, a apropriação desses objetos de conhecimento pela criança e algumas interações entre desenho e escrita. Não se trata de etiquetar a criança quanto aos níveis de desenho e escrita, mas de entender a construção dessas linguagens."
O que pode ser observado no Desenho:A produção gráfica da criança é bastante rica em detalhes que, se bem observados e interpretados, podem ser úteis na mediação da aprendizagem da criança.
Segundo Anabel Guillén, são aspectos observáveis:
Fases do desenvolvimento cognitivo, psicomotor e sócio-afetivo
Percepção visual
Oralidade
Expressão
Reprodução
Criatividade
Traços da Subjetividade
Psicopatologias
Slides: Análise do Desenho Numa Perspectiva Psicopedagógica, da psicopedagoga Anabel Guillén, (o arquivo está em 3 partes).
Plano de aula: 23.09